Diácono Raphael Estevão da Santa Cruz |
Nisso implica nosso seguimento a Cristo, que, como o jovem rico, acreditamos muitas vezes estar levando uma vida irrepreensível diante de Deus, mas, eis que este Jesus com suas palavras desconcertantes nos pede tudo: “se queres ser perfeito, vai vende tudo que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro nos céus. Depois vem e segue-me” (Mt 19,21).
No mundo atual, muitos jovens querem seguir Jesus, contudo, este seguimento é marcado por “condições” e “contrato de perdas”, ou seja, “quero te seguir Senhor, mas NÃO quero deixar tal coisa...” outros dizem “isso é muito para mim...” Jesus é claríssimo em seu diálogo com o jovem rico, por isso, que antes de aprofundar seu colóquio com o “bom rapaz”, há um questionamento desconcertante do Mestre: “se queres”, porque acima de tudo Jesus respeita a nossa livre escolha. Consagração é uma opção feita na liberdade, é a firme decisão de ser todo de Deus.
Não existe vida religiosa radical, o que existe é seguimento evangélico, e o Evangelho nos exige deixar tudo para segui-lo. Isso me faz lembrar a Bem-aventurada Teresa de Calcutá: “devemos amar até se esvaziar”. Não devemos ter medo do esvaziamento, ele é necessário para que Deus nos preencha.
Enquanto nos perdemos com nossa lista de condições, o Senhor nos exige apenas uma coisa: “vende tudo que tens e dá aos pobres”, sendo livre para viver somente Dele. A vida simples e a pobreza não são opcionais para seguir o Mestre, mas, um critério de sobrevivência da vida religiosa, onde num mundo secular e repleto de alternativas, necessitamos urgentemente redescobrir a novidade do Evangelho. A vida religiosa é a escolha diária pelas opções de Jesus, é ser como Ele, “outro Cristo”.
É tão forte essa Palavra de Jesus, que há uma promessa intimamente ligada à decisão de deixar tudo: “e terás um tesouro nos céu”, “pois onde está teu tesouro ai estará também seu coração” (Mt 6,21). Quando tomamos a decisão de abandonar tudo, o Senhor já nos concede um tesouro celestial, esse tesouro que não é comparado às fortunas deste mundo, muito menos as alegrias que tem para nos oferecer.
Esse tesouro é a eternidade, a participação da incorruptibilidade de Deus, pois tudo que juntamos nesta terra, nela ficará, “onde a traça e o caruncho os corroem e onde os ladrões arrombam e roubam” (Mt 6, 19), mas o que é de Deus perdurará para sempre. O convite que Deus faz a você jovem, que hoje está visitando o nosso Blog Vocacional é exatamente o mesmo que fez ao jovem rico, seja corajoso e não permita que as “coisas” te impeçam de ter a eternidade!
Seguimento é a resposta generosa que Deus espera de você, por isso, fala ao teu coração: “antes mesmo de te modelar no ventre materno, eu te conheci; antes que saísses do seio, eu te consagrei. Eu te constitui profeta para as nações” (Jr 1,5). Eu te exorto querido jovem, pare de se preocupar com o dia de amanhã, “pois o dia de amanhã já tem suas preocupações” (Mt 6, 34), decida-se por Deus hoje, “pois este é o dia do Senhor, seja para nós dia de alegria e de felicidade” (Sl 118,24), o dia de sua decisão!
Quando o Senhor me fez este convite de deixar tudo, eu estava no auge da juventude, apenas 17 anos, uma época de programações, momento de escolhas para a vida, “o que fazer, que faculdade cursar”, mas, sobretudo, um período onde os sonhos estavam mais aguçados. E assim, um homem de palavras desconcertantes entrou em minha vida, sem pedir permissão, bagunçou tudo e me deixou sem estruturas, desconcertado, talvez da mesma forma que você se encontra hoje.
Esse encontro não foi num poço da Samaria (cf. Jo 4,1-27), entretanto, eu estava com a mesma sede daquela mulher: de eternidade. E percebi que todas as minhas buscas frustradas estavam chegando ao fim, e mesmo desconcertado decide pelo Senhor: “Dá-me dessa água” (Jo, 415).
Onze anos se passaram, hoje faço
parte do grupo dos homens mais felizes e realizados deste mundo, pois tenho uma
comunidade que me ajuda na busca da santidade e um carisma que me completa. “E
quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos, ou terras por causa
do Meu nome, receberá muito mais; e terá em herança a Vida Eterna” (Mt
19, 29). O Céu é nosso, o Céu é logo, decida-se por Ele!
Diácono Raphael Estevão
da Santa Cruz, PJC.
Missão de Asunción – Paraguay.