Consagração, conversão levada ao extremo.
























"Ama de todo coração a Deus e a Jesus Cristo seu Filho crucificado" (5 CCL)

A Cruz, só a Cruz é que atrai as vocações. É ela o motivo da entrada do jovem na vida consagrada e de sua permanência.

Esse blog vocacional é uma das formas que a Fraternidade O Caminho encontrou para tratar, através de um "bate-papo" franco, alguns temas que na maioria das vezes constituem um problema na hora do jovem abraçar a vida consagrada.

O jovem que nos procura deve estar ciente que estará vindo para uma vida de renúncias, para uma árdua e difícil missão, para uma austera pobreza, experimentada num clima de perfeita alegria.

Venha viver conosco o desafio de ser discípulo de Cristo.

Não se atrai jovens com propagandas publicitárias, atrai-se com testemunho.

A vida consagrada é chamada a atrair os homens para Deus. Será que pode haver algo mais fascinante que isso?


Pe. Gilson Sobreiro
Fundador da Fraternidade O Caminho



sábado, 11 de agosto de 2012

Vinde e Vede! Vale a pena ser de Deus!

Que Procurais? Essa pergunta sempre me chama a atenção quando me deparo com o Evangelho de Nosso Senhor, mais precisamente no Evangelho de São João, 1,35. 

Tome comigo o Evangelho e mergulhemos no que o Senhor nos diz: Jesus está passando, quando João aponta para Ele e faz uma das mais belas declarações já feitas sobre Jesus: “Eis o Cordeiro de Deus”. (v.36) 

O cordeiro era o animal de expiação dos pecados. João anuncia o fim último da missão de Jesus, a nossa Salvação, a remissão de nossas culpas. 

V. 37 – “Os discípulos ouviram-no falar e seguiram Jesus”. Como é bonito ver a prontidão dos discípulos de João que escutam o seu mestre falar e imediatamente dão crédito a sua palavra. Não pedem maiores explicações sobre Jesus, apenas seguem-no. Quem sabe a atitude dos dois discípulos já nos mostram que João Batista, não era um homem de palavras vazias, como tantos de hoje. Sua palavra encontrava em sua vida o apoio necessário para convencer. 

Jesus percebe que está sendo seguido, volta-se para eles e faz, na minha opinião, uma das mais belas perguntas da Sagrada Escritura: Que procurais? 

Podemos ouvir nosso Senhor nos perguntando: que procurais? 

O desdobramento desta pergunta quem sabe seria: Pelo que você está vivendo? Qual é a finalidade da sua vida? Qual o sentido de sua existência? Onde está sua realização plena? 

Quem sabe você responderia essa pergunta como tantos que já ouvi dizendo: eu quero ser feliz! Mas eu insisto: o que é felicidade? O que pode te fazer feliz? 

Nós vemos por ai tantas pessoas, se esforçarem para passar no vestibular, dedicando horas de estudo. Vemos pessoas se matando de trabalhar para comprar uma casa, ou um carro. Vemos por outro lado, pessoas se matando por um amor não correspondido. 

Afinal onde está essa tal felicidade? Que procurais? O que vai te fazer feliz? 

Amados irmãos e irmãs, quero vos dizer que a felicidade não está naquilo que passa! 

Não coloque a sua realização naquilo que passa. Com isso não quero dizer que não devemos passar no vestibular, comprar um carro, ou ainda amar alguém. Mas estou dizendo que a sua felicidade não pode depender disso. A felicidade não está naquilo que você tem mas naquilo que você é. 

Mas voltemos ao Evangelho e vejamos a bela resposta dos discípulos. Essa resposta me incomoda, me questiona: “Onde moras?” 

Tenho certeza que você não levaria para sua casa alguém que você não conhece. A casa é o lugar da intimidade. A pergunta dos discípulos então poderia ser: “Mestre com eu faço para ter intimidade contigo?”. 

Esse era o desejo dos discípulos. Era comum o Mestre levar seus discípulos para casa. É muito comum hoje as pessoas buscarem Deus por aquilo que Ele pode dar. Que pena! Por que muito mais do que te dar curas, milagres e benção, Deus que se dar a você! Deus quer estar com você. É preciso que você deseje Deus. Deseje essa intimidade, essa experiência de amor! 

“Vinde e Vede!”, disse o Senhor ao discípulos. Vinde e vede! Diz o Senhor a você hoje. 

Faça essa experiência de amor. Deus não pode ficar somente na teoria. Deus não é matéria de Teologia, de catequese, ou de estudo bíblico. Deus é pessoa, com quem devemos nos encontrar. A nossa felicidade depende desse encontro. “Eles foram e ficaram com ele aquele dia”. 

Não basta se encontrar com o Senhor, é preciso permanecer com ele. 

Que procurais? Onde moras? Vinde e vede! Que essas perguntas te movam em busca do Senhor, e te façam experimentar o mesmo amor que um dia eu experimentei. 

Um dia eu recebi esse convite e depois que eu experimentei, nunca mais eu o larguei. 

Vale a pena ser de Deus! Vinde e Vede! 


Ir. Kephas Filho das Santas Chagas, pjc.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Santa Clara de Assis

Dia 11 de Agosto comemoramos o Dia de Santa Clara… 

Conheçamos um pouco daquela que nos convida, pela via da oração contemplativa a nos transformar por completo na imagem de Deus, amando de todo coração à Deus e a Jesus Cristo, seu Filho crucificado. 

O seu nome já diz tudo. “Clara de nome, mais clara ainda pela sua vida, claríssima em suas virtudes” (1 Legenda de Tomás de Celano 18). O nome foi dado por sua mãe, que sentindo chegar a hora do parto, orava na Igreja, de frente ao Crucificado, implorando a graça de um parto feliz, quando ouviu uma voz lhe dizer: “”Não receies senhora, porque de ti nascerá, sã e salva, uma luz de brilho mais claro que o próprio dia” (Legenda de Santa Clara 2). Fiel a esta profecia, sua mãe Hortolana a batizou com o nome de Clara. Detalhe: na mesma pia batismal que o pobre de Assis, São Francisco, havia sido batizado doze anos antes. 

Era o ano de 1193. Seu pai era cavaleiro e sua mãe provinha de uma família de aristocratas. Recebera boa educação e fora preparada, como uma jovem pertencente a nobreza, para um promissor casamento. 

Motivada pelo testemunho e pelas palavras de Francisco, decide abandonar a casa paterna, vender seus bens aos pobres e viver pobremente num mosteiro, juntamente com outras irmãs. Era o ano de 1210. O referencial de Clara é a conversão de Francisco, “que , como homem novo, tudo renovava”. Se há um homem novo, é porque houve uma homem velho. Diante dessa mudança tão radical, Clara quis logo vê-lo e ouvi-lo. Quis saber o que de fato tinha acontecido, porque todos diziam que ele havia se tornado um louco. 

A conversão dramática e extrema de Francisco acompanhou Clara por toda vida. Em seus escritos, insistentemente ela a cita: “Depois que o Altíssimo Pai Celestial, pouco depois da conversão de nosso bem-aventurado Pai São Francisco, iluminou-em o coração para que, seguindo-lhe o exemplo fizesse penitência” (Testamento de Clara 24). Clara, com a mesma intensidade de Francisco, compreendeu a conversão como princípio de uma vida totalmente diferente da que até então levara. 

A expressão “fizesse penitência” nos mostra de forma precisa o caráter radical e evangélico de sua mudança. Com isso, ela nos ensina que o chamado a uma vida consagrada supõe, antes de tudo, um chamado à conversão. Sem conversão não pode haver consagração! Francisco também ouvira falar de tão prendada menina e por isso quis conhece-la (Legenda de Santa Clara 5). 

Os encontros lhe revelaram que a jovem Clara buscava algo mais do que aquilo que já vivia. Em sua casa, Clara já procurava viver uma vida de oração “a sua oração era sua ocupação preferida” (Legenda de Santa Clara 4); de mortificação: “sob os vestidos preciosos e finos usava um pequeno silício” (LCL4); e de amor aos pobres: “enviava comida às escondidas para saciar os mais fracos” (LCL3). 

Clara precisava somente de um exemplo e o encontrou em Francisco. E agora o que fazer?, perguntou-se Clara. “Aproximava-se a solenidade de Ramos, quando a jovem de fervoroso coração, foi ter com o homem de Deus, para saber o que deveria fazer para mudar de vida”. “O Santo Pai (São Francisco) lhe ordenou que se apresentasse bem vestida e adornada, que participasse com o povo na cerimônia de Ramos e que na noite seguinte deixasse a cidade, transformando as alegrias mundanas em luto pela Paixão do Senhor” (LCL 7). 

Clara assim o fez. Vai para a Igreja, bem vestida, e lá lago de curioso acontece. No momento da distribuição dos ramos, o Bispo desce do altar e lhe entrega pessoalmente um ramo. Era o prenúncio de uma virgindade consagrada. Na noite seguinte Clara foge de casa. Sai às escondidas pela porta do fundo para não ser vista. A Santa sabia que a família nunca a apoiaria em tão grande loucura, deixando tudo para trás: segurança, conforto, proteção, família e amigos. 

A forma de vida das Irmãs Pobres de São Damião, nome que Clara dera ao seu pequeno grupo, consistia em viver o Evangelho em absoluta pobreza e fraternidade. 

Clara foi a primeira mulher a escrever uma regra e ser aprovada pela Igreja. Nisso podemos ver que Clara foi uma jovem decidida. Desde que descobrira que havia um “Nobre Cavalheiro” digno do seu amor, lançou-se sem reservas em seus braços, tornando-se assim “Sponsa Christ”, esposa de Cristo. Sua aliança com o Esposo da alma é para o sempre. 

Com Ele e por Ele, suporta todas as provações, ultrapassa todos os obstáculos. Tudo isso, sem queixas e arrependimentos. É a perfeita alegria que lhe ensinara seu Pai espiritual, São Francisco de Assis. Clara é ao mesmo tempo encantadora e desconcertante. 

Clara atrai, mas também incomoda. Deve ser por isso que cada época é salva pelo Santo que mais a contradiz. Amou e serviu até o fim e morreu, após longos anos de sofrimento, como sempre vivera, feliz, deixando para toda Igreja um legado de santidade e uma família numerosa de filhas. O ano era o de 1253. 

Que nossa seráfica mãe Clara nos abençõe! 


Pe. Gilson Sobreiro 
Fundador da Fraternidade O Caminho 

(Texto extraído do livro “Consagração, Conversão Levada ao Extremo. Um itinerário vocacional com Santa Clara de Assis. Editora Palavra & Prece. 2ª Edição, 2008)

sexta-feira, 25 de maio de 2012


Visita à Bolívia

Cheguei domingo à cidade de El Alto depois de um inesperado problema que encontrei quando cheguei ao aeroporto de Assunção. O box da empresa aérea que faria o trajeto Assunção/La Paz estava fechado e quando fui me informar o motivo me disseram que ela havia falido já fazia alguns dias.
A vontade de visitar nossas missões foi mais forte, porém que as dificuldades encontradas por isso que depois de alguns reajustes cheguei por fim a Bolívia.
Ir. Bernardo e Ir. Petrus, juntamente com duas amigas da Obra, já estavam me esperando. Fomos direto para a casa dos irmãos onde toda a comunidade estava lá aguardando a chegada do fundador.
Se a figura de um fundador é importante para a vida de uma comunidade que ainda está dando seus primeiros passos no país onde surgiu imaginem vocês o quanto não é significativa para as missões que se encontram fora dele.
Os dias que lá passei foram marcados pela oração, adoração, celebração da Santa Missa, pequenos trabalhos domésticos, reuniões e, sobretudo por momentos de gratuidades.
A casa dos irmãos é um albergue que acolhe todos os dias os filhos que vivem nas ruas. Eles chegam á noite e depois de tomarem uma sopa bem quentinha se recolhem para dormir. Pela manhã tomam café e depois saem outra vez para as ruas.
Escrevendo assim até parece ser bem pouco o que se faz, entretanto se levarmos em consideração o clima de El Alto, quase sempre abaixo de zero, esse acolhimento é vital para a vida dos filhos que vivem nas ruas.
Não poucas vezes aparece nos jornais da cidade noticias sobre “mendigos” que morrem de frio nas ruas.
Os irmãos também fazem curativos e levam os filhos que se encontram bastante debilitados para os hospitais. Não só isso, eles também vão às ruas juntamente com as irmãs.
Um dos frutos do trabalho realizado é que alguns filhos já estão vivendo na casa dos irmãos.
Os irmãos e as irmãs também desenvolvem um trabalho missionário com os presos. Uma das cadeias visitada fica à uma hora de ônibus e mais três quilômetros a pé. Tudo isso para cumprir o mandato de Jesus que nos diz “estive preso e fostes me visitar” (Mt 25,36).
As irmãs também estão começando um trabalho junto às adolescentes que vivem em situação de prostituição e ajudam na comunidade paroquial Virgem Milagrosa.
Uma das coisas que mais me impressionou nessa visita missionária foi o carinho e o respeito que os irmãos e as irmãs tem pelo povo boliviano, pela sua cultura e pelas suas tradições. Me alegrou também o coração a bela experiência de vida fraterna que eles vivem e a alegria por poderem levar o Carisma da Fraternidade “além fronteira.”  Ide por todo o mundo...
Um dos momentos mais marcantes da minha estada em El Alto foi a Missa em Ação de Graças pela nova capela das irmãs e o postulantado da Lili, nossa primeira vocação boliviana. Amigos e benfeitores vieram de todas as partes para esse significativo momento da vida da comunidade. 
Depois da Santa Missa a alegria tomou conta de todos e foi marcada pelos diferentes ritmos bolivianos; la morenada, la cueca, el caporale, etc.
Deus abençoe a cada um dos irmãos e irmãs que estão na Bolívia e a vontade de voltar lá é tão grande que quem sabe eu não volte ainda esse ano para vê-los outra vez.
Pe. Gilson Sobreiro, pjc
Pobre missionário de Jesus Cristo

sábado, 19 de maio de 2012


 Visita a Missão de Assunção – Paraguay
Depois de oito horas de viagem chegamos a Assunção. O lugar da partida foi Ciudad Del Leste onde temos duas casas de missão. Os irmãos juntamente com a co-fundadora, Ir. Serva, já estavam na rodoviária nos aguardando. O clima era de alegria e descontração.  
            Quando chegamos a casa das irmãs a mesa já estava servida. Além do já esperado café com leite tinha também alguns “bocaditos” paraguaios; empanadas, chipaguaçu, sopa paraguaia. Para quem não sabe o Paraguai é o único lugar no mundo onde existe sopa sólida. É uma das minhas comidas prediletas.
            No outro dia fomos a casa dos irmãos para celebrar a Santa Missa na qual David e Rock seriam acolhidos para o aspirantado e Jéssica para o postulantado. A alegria não poderia ser maior ao ver as primeiras vocações paraguaias chegando. Além dos três tem mais nove jovens que já entraram e um número bem expressivo sendo acompanhado.
            No outro dia tive a oportunidade de visitar o Cateura. É um nome de um bairro que foi construído em torno de um lixão. Ai existem 428 famílias que vivem dos dejetos que chegam de toda parte da cidade de Assunção. Se não bastasse a situação lamentável de saúde em que essas famílias se encontram uma grande parte do bairro estava inundada pelo rio que transbordou durante a época das chuvas.
            As crianças se banham nas águas infectadas do rio juntamente com os porcos que estão por toda parte. Os mosquitos e o mau cheiro também fazem parte do dia a dia das famílias que ai vivem.  
            Um dos maiores desafios que a comunidade encontrou foi a desnutrição que assola, sobretudo as crianças, por isso a primeira iniciativa dos irmãos e das irmãs foi a de levar comida para elas. A idéia agora é de abrir um refeitório onde as crianças possam se alimentar diariamente, assim como, começar um trabalho junto a pastoral da criança para a pesagem e a produção da multi-mistura.
            Além desse trabalho missionário as irmãs também dão de comer as crianças indígenas que vivem pelas ruas de Assunção e os irmãos visitam as cadeias, o centro de desintoxicação (único em todo o país) e acolhem jovens dependentes químicos.
            O projeto agora é conseguir uma chácara para desenvolver melhor o trabalho terapêutico.
            Tive a oportunidade ainda de me reunir com os nossos leigos de Aliança e fiquei deveras impressionado com o desejo que eles manifestaram de poder contribuir de maneira mais eficaz com a missão.
            Toda a comunidade se prepara agora para o Resgata-me que irá acontecer no inicio do primeiro semestre.
            Uma das coisas que mais me alegrou o coração foi ver uma comunidade marcada pelos laços de benquerença e cuidado mútuo. Sem dúvida essa é a marca dos verdadeiros discípulos de Jesus e a grande herança deixada por nosso pai Francisco quando exclamou ao receber os primeiros irmãos na fraternidade; “O Senhor me deu irmãos”.

           Terminei a visita rendendo graças ao Altíssimo por ter podido contemplar o rosto de uma missão que está apenas começando e que já apresenta tão abundantes frutos.
Pe. Gilson Sobreiro, pjc
             

quarta-feira, 25 de abril de 2012

"Que Procurais?" (JO 1,38)


Diácono Raphael Estevão da Santa Cruz
Quanto mais mergulhamos na vida de Jesus por meio de Sua Palavra percebemos que a lógica divina é bem diferente da nossa, uma pedagogia que rompe nossas estruturas com palavras tão simples, tendo força de desconcentrar o nosso interior. Jesus sempre tem a palavra acertada!


Nisso implica nosso seguimento a Cristo, que, como o jovem rico, acreditamos muitas vezes estar levando uma vida irrepreensível diante de Deus, mas, eis que este Jesus com suas palavras desconcertantes nos pede tudo: “se queres ser perfeito, vai vende tudo que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro nos céus. Depois vem e segue-me” (Mt 19,21).


No mundo atual, muitos jovens querem seguir Jesus, contudo, este seguimento é marcado por “condições” e “contrato de perdas”, ou seja, “quero te seguir Senhor, mas NÃO quero deixar tal coisa...” outros dizem “isso é muito para mim...” Jesus é claríssimo em seu diálogo com o jovem rico, por isso, que antes de aprofundar seu colóquio com o “bom rapaz”, há um questionamento desconcertante do Mestre: “se queres”, porque acima de tudo Jesus respeita a nossa livre escolha. Consagração é uma opção feita na liberdade, é a firme decisão de ser todo de Deus.


Não existe vida religiosa radical, o que existe é seguimento evangélico, e o Evangelho nos exige deixar tudo para segui-lo. Isso me faz lembrar a Bem-aventurada Teresa de Calcutá: “devemos amar até se esvaziar”. Não devemos ter medo do esvaziamento, ele é necessário para que Deus nos preencha.


Enquanto nos perdemos com nossa lista de condições, o Senhor nos exige apenas uma coisa: “vende tudo que tens e dá aos pobres”, sendo livre para viver somente Dele. A vida simples e a pobreza não são opcionais para seguir o Mestre, mas, um critério de sobrevivência da vida religiosa, onde num mundo secular e repleto de alternativas, necessitamos urgentemente redescobrir a novidade do Evangelho. A vida religiosa é a escolha diária pelas opções de Jesus, é ser como Ele, “outro Cristo”.


É tão forte essa Palavra de Jesus, que há uma promessa intimamente ligada à decisão de deixar tudo: “e terás um tesouro nos céu”, “pois onde está teu tesouro ai estará também seu coração” (Mt 6,21). Quando tomamos a decisão de abandonar tudo, o Senhor já nos concede um tesouro celestial, esse tesouro que não é comparado às fortunas deste mundo, muito menos as alegrias que tem para nos oferecer.


Esse tesouro é a eternidade, a participação da incorruptibilidade de Deus, pois tudo que juntamos nesta terra, nela ficará, “onde a traça e o caruncho os corroem e onde os ladrões arrombam e roubam” (Mt 6, 19), mas o que é de Deus perdurará para sempre. O convite que Deus faz a você jovem, que hoje está visitando o nosso Blog Vocacional é exatamente o mesmo que fez ao jovem rico, seja corajoso e não permita que as “coisas” te impeçam de ter a eternidade!


Seguimento é a resposta generosa que Deus espera de você, por isso, fala ao teu coração: “antes mesmo de te modelar no ventre materno, eu te conheci; antes que saísses do seio, eu te consagrei. Eu te constitui profeta para as nações” (Jr 1,5). Eu te exorto querido jovem, pare de se preocupar com o dia de amanhã, “pois o dia de amanhã já tem suas preocupações” (Mt 6, 34), decida-se por Deus hoje, “pois este é o dia do Senhor, seja para nós dia de alegria e de felicidade” (Sl 118,24), o dia de sua decisão!


Quando o Senhor me fez este convite de deixar tudo, eu estava no auge da juventude, apenas 17 anos, uma época de programações, momento de escolhas para a vida, “o que fazer, que faculdade cursar”, mas, sobretudo, um período onde os sonhos estavam mais aguçados. E assim, um homem de palavras desconcertantes entrou em minha vida, sem pedir permissão, bagunçou tudo e me deixou sem estruturas, desconcertado, talvez da mesma forma que você se encontra hoje.


Esse encontro não foi num poço da Samaria (cf. Jo 4,1-27), entretanto, eu estava com a mesma sede daquela mulher: de eternidade. E percebi que todas as minhas buscas frustradas estavam chegando ao fim, e mesmo desconcertado decide pelo Senhor:  “Dá-me dessa água” (Jo, 415).

Onze anos se passaram, hoje faço parte do grupo dos homens mais felizes e realizados deste mundo, pois tenho uma comunidade que me ajuda na busca da santidade e um carisma que me completa. “E quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos, ou terras por causa do Meu nome, receberá muito mais; e terá em herança a Vida Eterna” (Mt 19, 29). O Céu é nosso, o Céu é logo, decida-se por Ele!


Diácono Raphael Estevão da Santa Cruz, PJC.
Missão de Asunción – Paraguay.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Vida de Oração

"Fixa teu olhar no espelho da eternidade, deixa tua alma banha-se no esplendor da glória e une teu coração Àquele que é encarnação da essência divina, para que, contemplando-O, transformas-te inteiramente na imagem da sua divindade. Assim também tu poderás experimentar o que só os amigos podem sentir quando sobereiam a doçura escondida que Deus reserva desde toda a eternidade àqueles que O amam" (3 CCL).

Este texto nos revela o que Clara entendia por oração.

Oração é abandonar-se no absoluto de Deus. É saborear a doçura silenciosa de Deus. Não esqueçamos que Clara é contemplativa e que o objeto da oração contemplativa é o Tudo de Deus.

Clara nos convida, pela via da oração contemplativa, a nos transformar por completo na imagem de Deus e não o contrário, como costumamos fazer em nossas orações: transformamos Deus num outro igual a nós. Esse é o grande perigo da vida cristã, reduzir Deus as nossas necessidades humanas. Na oração, é o próprio Deus que nos convida a estarmos com Ele. Precisamos silenciar para senti-lO.

A tradição monástica a qual Clara pertencia, nos apresenta quatro estágios de oração:

No primeiro momento, Deus no fala através da sua Palavra (lectio).

No segundo, nós falamos a Deus através da nossa oração (oratio).

No terceiro momento nos fixamos numa palavra e a meditamos (meditatio) e, por fim, o silêncio fecundo de Deus, onde qualquer palavra seria ineficaz e desnecessária (contemplatio).

Muitas palavras na oração nem sempre revelam um coração cheio de Deus, como nos diz a história da carroça vazia:

Um dia o pai convida seu filho para um passeio na floresta; chegando lá ele pede ao filho que feche seus olhos e tente perceber todos os ruídos a sua volta. O filho com os olhos fechados começa a identificar os ruídos: eu escuto o canto dos pássaros; o vento nas folhas das árvores; a água correndo no riacho e... o barulho de uma carroça!

E ela está vazia, não é?

O filho espantado pergunta ao pai: Como é que o senhor sabe que ela está vazia?

O pai sabiamente lhe responde: Porque carroça vazia faz muito barulho.

Santa Clara o convida, jovem, a fazer essa experiência do silêncio. Não um silêncio triste, vazio, mas um silêncio fecundo, dom de Deus, capaz de preencher e alegrar seu coração.

"Àquele cuja beleza é contemplada por todos os santos do exército celeste cujo amor nos encanta, cuja bondade e benignidade nos basta" (4CCL).

A vida de oração passa também por uma exigência de disciplina.

A primeira coisa que abrimos mão quando estamos muito atarefados é a nossa oração. É verdade ou não é?
 Sem uma certa disciplina facilmente abandonamos a vida de oração.

Clara era "diligentíssima e muito solícita na oração. E nisto se empenhava de maneira especial" (PC 7,3)

São muitos os testemunhos de suas irmãs a esse respeito: "A bem-aventurada mãe era muito assídua e solícita na oração que fazia largo tempo, humildemente prostrada por terra" (PC 1,9). "A madre era muito assídua na oração de dia e de noite" (PC 2,9); "ficava longo tempo em oração durante a noite" (PC 10,3).

A vida de oração de Clara nos lembra o que recomendou Jesus a seus discípulos: "É preciso rezar sempre, sem nunca desistir" (Lc. 18,1).


Pe. Gilson Sobreiro
Fundador da Fraternidade O Caminho

quarta-feira, 4 de abril de 2012

O acompanhamento vocacional na Fraternidade O Caminho

Ser Todo de Jesus e de Jesus Todo!
Todos os homens são chamados ao mesmo fim, o próprio Deus. Existe certa semelhança entre a unidade das pessoas divinas e a fraternidade que os homens devem estabelecer entre si, na verdade e no amor. O amor ao próximo é inseparável do amor a Deus. (CIC. 1878)

Novo Adão, na mesma revelação do ministério do Pai e de seu amor, Cristo manifesta plenamente o homem ao próprio homem e lhe descobre a sua altíssima vocação. Em Cristo, imagem do Deus invisível (Cl. 1,15), foi homem criado à imagem e semelhança do Criador. (CIC. 1701)

“Mestre onde moras?” (Jo.1,38). Este questionamento dos discípulos mostra que estão interessados pela morada do Senhor. A morada do Senhor é “O Caminho”!. Foi no caminho que Jesus se encontrou com os discípulos, e é neste mesmo caminho que Ele faz o chamado “Vinde e vede” (Jo. 1,39), mas, também é no caminho que este mesmo Senhor se encontra com os pobres e necessitados de amor.

O vinde e vede é um convite questionativo do Senhor, pois somente no seguimento eles (os discípulos) poderiam saber mais do Senhor. Quando o homem se encontra com o amor misericordioso de Cristo ele é impulsionado a deixar tudo e segui-lo. Somente o amor de Deus nos faz deixar as “redes de nossa vida” para nos tornarmos pescadores de homens.

A etimologia da palavra vocação vem do verbo latino vocare, que significa “chamar”. É a tradução do termo “vocatione” que quer dizer chamado, apelo, convite, convocação.

É uma iniciativa gratuita, proposta que parte de Deus , que é a dimensão teológica. E impulso interior de cada pessoa onde conscientemente responde ao plano de amor de Deus, que é a dimensão antropológica.

Sendo que Cristo morreu por todos e que a vocação ultima do homem é realmente uma só, a saber, divina, devemos sustentar que o Espírito Santo oferece a todos, sob forma que só Deus conhece, a possibilidade de se associarem ao Mistério Pascal.

“A nossa vocação é o maior de todos os benefícios que recebemos e diariamente continuamos a receber do nosso benfeitor, o Pai das misericórdias, pelos quais devemos render infinitas graças; e quanto mais perfeita ela é, mais d´Ele nos tornamos devedores”. (Sta. Clara de Assis)

O fundador da Obra, Pe. Gilson, diz que são muitos os jovens que, quando se sentem chamados para uma vida consagrada, têm como primeira atitude rejeitá-la, exclamando: “Isto não é coisa para mim !”. É como se essa vocação fosse a pior coisa do mundo e por isso mesmo jamais poderia aceitar.

Outras atitudes freqüentes são: vergonha, o que vão pensar de mim?, a insegurança, o que vai ser de mim agora?, a dúvida, será que não é coisa da minha cabeça? E principalmente do medo de Deixar tudo. O medo é ausência do Espírito Santo.

Diante do chamado de Deus o que nos resta a não ser permitir que o Senhor nos conduza, se Ele chama é porque tem certeza que podemos ser resposta generosa a este apelo divino. A vocação é o gesto de amor mais “escandaloso” de Deus para com o homem, é o Senhor chamando-o para fazer parte de seu discipulado de amor.

O estado de vida consagrada aparece, portanto como uma das maneiras de conhecer uma consagração mais intima que se radica no batismo e se dedica totalmente a Deus, na vida consagrada, os fieis de Cristo se propõem, sob a moção do Espírito Santo, seguir a Cristo mais de perto, doar-se a Deus e amando-o acima de tudo, procurando alcançar a perfeição da caridade a serviço do Reino, significar e anunciar na Igreja a glória do mundo futuro. (CIC. 916)

O terceiro milênio aguarda a contribuição da fé e da inventiva de uma multidão de jovens consagrados, para que o mundo se torne mais sereno e capaz de acolher a Deus e, nEle, todos os seus filhos e filhas. (VC 106 – João Paulo II)

Quando se fala em vocação vale-se ressaltar que existem suas dimensões, são elas: dimensão humana, dimensão cristã e dimensão específica.

Dimensão Humana: é dom gratuito de Deus, o chamado à vida, a existência, um desenvolvimento da dignidade humana. A vocação humana é fundamental, pois sem desenvolvê-la é impossível sermos cristãos, pois antes de sermos cristãos, somos humanos; desse modo, devemos desenvolver todas as nossas potencialidades que foram dadas por Deus, para que haja um mundo mais justo e igualitário, portanto, o homem precisa descobrir que primeiramente o Reino de Deus é algo que está em seu interior.

Dimensão Cristã: o batismo nos torna filhos de Deus. Todo batizado é chamado a seguir Cristo, sua Igreja e Palavra. Ser cristão é uma urgência de todo batizado, é permitir que a força do sacramento nos leve a radicalidade do nome cristão. Cristão é aquele que tem o Cristo na alma. Essa dimensão tem que gerar no batizado o desejo de ser como Cristo, em tudo fazer vontade do Pai.

Dimensão Especifica: é a caracterização especifica de um estado de vida vocacional. Por exemplo, a vocação laical, que são leigos chamados a santificar o mundo, os leigos são especialmente chamados por Deus a tornarem a Igreja presente e operosa naqueles lugares e circunstancias onde apenas através deles ela pode chegar como sal da terra (Pio XI, Encíclica Quadragésimo Ano). a vocação ordenada, que é subdividida em três: diácono, presbítero e os bispos, e a vocação religiosa que pela profissão dos conselhos evangélicos (pobreza, castidade e obediência) se tornam almas esposas do Cristo Esposo.

A vida religiosa é a radicalidade do batismo, é o chamado para ser um “outro Cristo”, como por exemplo, o Seráfico Pai São Francisco e Santa Clara, que abraçando o Cristo-Todo tornaram-se semelhante a Ele. “O mundo tem saudades de Francisco” (João Paulo II)

Sabe-se que a Fraternidade O Caminho é um Instituto de vida religiosa mista (irmãos e irmãs) onde seus membros são consagrados a Deus pela profissão dos conselhos evangélicos.

Os irmãos que tem o desejo do sacerdócio serão acompanhados ao longo da formação, e num discernimento estreito com o formador decidirão juntos tão sublime chamado. Sabendo que a Fraternidade não é uma obra clerical e sim religiosa.

A vocação na Obra é tida como um comprometimento espiritual. Diante do Senhor Sacramentado todos os dias é implorado para que Ele envie santas vocações à Igreja, à Obra. Antes da vocação chegar até a obra ela já vai sendo gerada no coração de Deus para que permaneça firme e fiel em seu santo propósito.

Na Fraternidade O Caminho não há uma comissão vocacional nacional que acompanha as vocações.

O acompanhamento vocacional para a Fraternidade é algo sagrado, a vocação tem que ser bem acompanhada, para que no tempo futuro dê fruto doce à Obra e conseqüentemente à Igreja de Cristo.

Ao longo dos anos foi sentindo essa necessidade de ter um (a) irmão (ã) responsável pelas vocações. Esse irmão (ã) não só acompanha o candidato, mas conhece sua vida, sua família, enfim, sua caminhada na Igreja.

Quando o candidato manifesta o desejo de viver como a Fraternidade vive, nesse instante começa o chamado discernimento vocacional, onde ao longo do tempo juntos em oração e direção escutarão a voz do Senhor.

O acompanhamento é realizado por um irmão (a), por no mínimo seis meses, sendo que aqueles que já tiveram uma outra experiência consagrada como por exemplo convento, seminário e diocese, esse tempo perdurará por no mínimo um ano.

O contato vocacional do candidato com a obra, tem que ser feito por e-mail, carta, telefone ou se dirigir em uma de nossas fraternitas. Esse contato tem que ser constante e fundamentado na virtude da honestidade.

Para o inicio do acompanhamento é necessário escrever uma carta de auto-apresentação contendo um pouco da história de vida e vocacional, o tempo de caminhada na Igreja e como foi a conversão, relatar sobre o convívio familiar e vida afetiva, onde e como conheceu a Fraternidade e o nome da pessoa que o apresentou.

Se ao decorrer do acompanhamento, o candidato decidir ingressar na Obra com a permissão do (a) irmão (ã), ele será recebido como um vocacionado interno, sendo acompanhado mais de perto.

É necessária a carta de apresentação e recomendação (de preferência um clérigo) do candidato.

Só há seguimento quando há renúncia e Cruz.. Como dizia São Luís Maria Grignon de Montfort: “Nem Jesus sem a Cruz e nem a Cruz sem Jesus”.

Coragem, vale a pena ser de Deus!

Quem não quer construir um santo, está construindo um pecador!

Dor e amor são inseparáveis para quem
quer ser santo!
Não existem os Santos. Existe o Santo. A santidade acontece individualmente.

Como a salvação, a santidade é individual porque cada alma é uma individualidade, um segredo. A individualidade da minha alma é a matéria para minha santificação. A vida dos Santos é marcada pela individualidade da alma.

É o mesmo Deus, a mesma fé, a mesma Palavra, os mesmos mandamentos, a mesma Igreja, o mesmo batismo, a mesma consagração, mas apesar de tudo isso, uns são Santos e outros não.

A salvação, a santidade é um projeto individual (meu). Perdemos-nos nas pequenas coisas nos esquecendo do nosso projeto. A diferença está em nós, mas a santidade é única. Cada um é diferente do outro, mas é um único Deus.

O martírio é o caminho mais rápido para a santidade. Quanto mais essa geração for covarde, teremos menos santos e santas.

João Paulo II nos ensinou a viver e nos ensinou a morrer. E quando não nos é permitido o martírio do derramamento de sangue, nós devemos buscar o martírio da caridade que começa nos deveres mais humildes do nosso estado de consagração, esse é o segundo martírio. Se não me é permitido o 1º martírio e eu não vivo o 2º, estou perdendo tempo.

A vocação à santidade não é um privilégio de ninguém, não é uma exceção à regra, não é um milagre. É preciso acabar com a mania de que a santidade é para o outro e não para mim.

Santidade é vocação de todos, do rei ao sapateiro. Todos são convidados: os celibatários e os casados.

“A Santidade é uma vocação universal” Atos 7,54-60 – O martírio de Santo Estevão.

Desejar a morte para que não morra a vida. O martírio é o amor levado ao extremo. Não há santo que não saiba perdoar. Quem não sabe perdoar nunca vai ser santo.

“Cristo só verdadeiramente será Hóstia para nós quando nos fizermos Hóstias para Ele”. (São Gregório Magno)

No relato do martírio de Estevão, fora saciada a sede de vingança judaica. Fora saciada a sede do amor cristão.

Macário de Alexandria – Santo monge. Ainda moço abraça a vida solitária. Discípulo de Santo Antão. Enquanto que a vida clerical se perdia no ouro e na púrpura, aqueles homens chocavam, vivendo nas montanhas, vestindo-se de sacos…

Santo é aquele que é capaz de contradizer a sua época. Com um saco de areia nas costas, Macário diz: “Maltrato a quem me maltrata (corpo)”.

Os preguiçosos, os que reclamam nunca vão ser santos. Os que procuram o comodismo, que não fazem a experiência da cruz, que não sofrem, nunca vão ser santos. Faltam santos porque nossa Igreja está cheia de “boas vidas”.

Dor e Amor são inseparáveis para quem quer ser santo. O caminho da cruz é o caminho do céu. O caminho de Macário. Da austeridade, do silêncio e das vigílias. Tire a cruz, e tirara o céu da nossa vida.

“Vós com vossa pobreza, são venturosos, pois zombam do mundo”. Fala de alguns navegantes à Macário que responde: “Vós com vossa riqueza são desgraçados porque o mundo zomba de vós”. Macários.

A Conversão é um dos espetáculos mais belos que podemos contemplar em alguém.

Santa Margarida de Cartona – Itália: Jovem adolescente sai de casa e vive uma vida de total prostituição. Por dinheiro essa jovem menina vive nos braços de um e de outro. Procurada por uns, evitada por outros. A sedutora dos homens bons.

Da Margarida Santa, um dia houve a Margarida pecadora. Mas entre a Santa e a pecadora teve que haver um dia a Margarida convertida. A conversão é a passagem para a santidade. Por mais que eu faça, se não houver conversão de nada vale.

No palco da vida, o grande espetáculo que tenho que representar é de homem e mulher convertido.

Duas são as vias para viver a santidade:
1º da brancura que é o caminho da inocência.
2º do vermelho (sangue) que é o caminho da penitência.

Quem perdeu o caminho da inocência, agarre-se ao caminho da penitência. Os convertidos surpreendem. 

Margarida um dia desceu ao último degrau da depravação, mas um dia também subira ao último degrau da santificação.

Aquela mulher que um dia fora de todos por dinheiro, acabara um dia sendo unicamente Daquele que nada tinha.

Um convertido só pode ser compreendido por outro convertido. Quem não entrou no caminho da conversão, não vai acreditar na conversão do outro.

“O convertido é um espírito diferente e que, portanto, gera observações diferentes a seu respeito”.

O santo é aquele que não se contenta com o que ele é ou o que ele faz. Ele quer mais. Sua vida é um escândalo para os covardes e acomodados. É custoso ser santo. É mais fácil ser santo fora do que dentro das nossas Igrejas. O santo não é alguém negativo.

Fica-lhe sempre a suspeita de não ter inteiramente se despido da pele do homem velho. De não ter destruído, mas só adormecido o outro que habitava o seu corpo: Pagou, suportou, sofreu tanto pela sua conversão, bem tão precioso mais frágil e por isso tem medo de perde-la.

Quando o convertido faz algo, realiza logo, (pregamos, visitamos, cantamos, etc). Jamais pode esquecer da experiência da sua queda e da sua libertação.

“É preciso trabalhar arduamente, incansavelmente pela nossa santificação”.

É a única luz, a única maneira. Só podemos alcançar nossa santidade pagando este preço: Dizer o NÃO que a santidade nos pede ao SIM ilusório do mundo.

“No fundo de todo santo há um pecador que se debate porque quer vir à tona. Os santos não seriam santos se não tivessem lutado para conter os seus monstros interiores”.

“No fundo de cada pecador, há um santo que se debate”.

A amarga decepção de Margarida a joga nos braços de Deus. o drama da recuperação, após o drama do desperdício. Recuperar o que perdeu.

Para ser santo, temos que amar o que nós detestávamos e detestar (desprezar) o que nós amávamos. A penitência arrancou a beleza de Margarida. Feria o rosto com pedras, depois pegava pedras menores e passava nas feridas. A bela tornou-se feia. Maltratava o corpo até o sangue jorrar pelas paredes. A única coisa que Margarida tinha era o silêncio de Deus.

“É possível, dulcíssimo Salvador, que convertendo cada dia tantas almas, só à perda da minha vos mostreis insensível, pois na verdade Senhor, ela custou-vos tanto como a da Madalena pecadora. Ò vos que me resgatastes com o preço infinito do vosso sangue, não me abandoneis no triste desampara e que me vejo e tende misericórdia de mim”. Santa Margarida de Cartona

Ela escutou Jesus dizendo: “Tem ânimo, minha filha. Por mais violentos que sejam os esforços do demônio, pois eu estou contigo no combate e sairás sempre vitoriosa. Sê fiel em tudo aos conselhos do teu diretor. Confia cada vez mais na minha bondade, desconfia de ti mesma e com o socorro da minha graça triunfarás do inimigo”.

Morreu ao 48 anos, vinte e três destes vividos na penitência. Aos 22 de fevereiro de 1297 Cartona chora a morte daquela mulher.

Santidade é na pratica. Quem não quer construir um santo, está construindo um pecador.

Toda a vida ainda é pouca para construir um santo.

Pe. Gilson Sobreiro.
Fundador da Fraternidade Missionária O Caminho